3 de maio de 2008

Qual a sua opinião sobre o sistema de cotas?

O sistema de cotas da forma como vigora em nosso país acredito ser muito mais um processo discriminatório do que política de inclusão, deixe-me explicar. Concordo plenamente com a infeliz realidade pela qual passaram os negros ao longo da história do nosso país. A respeito dessa questão, consideremos o trecho abaixo, de Chico Buarque onde o mesmo já contava na letra do samba Vai Passar, o sofrimento e a discriminação dos negros.

“[...] Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais. Que aqui sangraram pelos nossos pés. Que aqui sambaram nossos ancestrais. Num tempo página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória. Das nossas novas gerações. Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações. [...]” GRIFO NOSSO

Entretanto, não somente eles, mas também o índio sofreu e sofre até hoje discriminação. Os descendentes destas duas raças são certamente os que menos detêm poder aquisitivo no Brasil e por esta condição, o que mais os negros e índios têm em comum é o fato de serem os que mais utilizaram os serviços da escola pública. Não é novidade para ninguém que o dia a dia das escolas públicas do nosso país é de enfrentamento de inúmeras deficiências.
É importante salientar que a educação pública no nível fundamental e médio não prepara os alunos para entrarem no concorrido vestibular das também públicas, Universidades. Bem, é por este motivo que discordo do sistema de cotas. Em minha opinião acredito a seleção para ingresso nas universidades deveria continuar sendo por mérito e não a cor da pele ou qualquer outro fator. Por oito anos presidente da CCV – Comissão Coordenadora do Vestibular, o professor Mauro Villar de Queiroz deixou seu exemplo na tentativa de evitar a exclusão dos alunos oriundos das escolas públicas. Ele organizava reuniões com os diretores de todas elas para saber se alguma parte do conteúdo não havia sido ministrada e mediante esta informação orientava os professores que formavam a comissão que elaborava as questões do vestibular para não abordar determinado assunto. Essa foi a forma que ele encontrou de minimizar as diferenças na qualidade do ensino.
Mas mesmo assim, se é de ter algum sistema de cotas que seja pela condição econômica e não racial. Desta forma, alunos das escolas públicas deveriam ter o direito a se não à totalidade pelo menos 80% das vagas reservadas e apenas 20% para os ex-alunos das escolas particulares. Isto posto que os alunos das escolas particulares têm condições financeiras de arcar com os custos das universidades particulares e os oriundos das escolas públicas dependem muitas vezes de empréstimos ou créditos educativos para poder realizar o sonho da graduação e muitos por não conseguirem nenhuma destas opções de financiamento acabam largando o curso. Esta situação sim, é de exclusão.

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